No episódio LAB009 exploramos a anatomia de uma decisão difícil enfrentada por gestores: um estudo de caso de como decidir sobre a re-abertura da economia para os governantes de cidades, estados e países ao redor do mundo. Como estruturar essa decisão tão importante e quando tanto os benefícios como os efeitos colaterais impactam a todos?
Sugerimos uma abordagem que leva em conta conceitos da Startup Enxuta, MVPs, e sua validação. Como funcionariam esses conceitos numa decisão da administração pública?
Decisões não precisam ser tomadas do contexto binário: SIM ou NÃO a uma proposta. É importante sair dessa limitação logo de início por vários motivos:
– alternativas conseguem orientar a discussão para novos contextos de possibilidades e são sempre bem-vindas
– a opção inicial é um ponto de partida, não o destino. Novas decisões precisaram ser tomadas em breve baseadas no aprendizado adquirido desde a decisão inicial
Tão importante quanto a decisão é o aprendizado que o teste proporciona. Isso é um dificuldade muito comum de equipes quando lidam com as situações de forma absoluta (“a decisão foi certa / errada“), que vê cada decisão como independente da anterior (“o que importa é o aqui / agora“), ou que negligencia o valor dos sinais e lições menores do processo… que no final das conta é o que de fato faz a decisão resolver o problema.
Expandindo o Horizonte das Decisões
Com isso em mente, sugerimos a necessidade de um plano para a decisão de re-abertura da economia baseado em:
– quando
– o quê
– como
Ou seja, quebrar a decisão de SIM ou NÃO para esses 3 critérios. De cada, o gestor é empoderado a escolher exatamente o que será re-ativado.
Como Lidar com um Grande Experimento em Meio à Incerteza
Notamos que essa decisão de reabrir a economia local é em escala global, e sem precedentes, e sem garantias. Governantes ao redor do mundo vão cedo ou tarde enfrentar esse dilema.
Qual a melhor forma de executar esse tipo de decisão?
Nesse caso, sugerimos de lidar com a situação como um experimento, da mesma forma que é sugerido no contexto de negócios como A Startup Enxuta e o processo de validação de um MVP (Produto Mínimo Viável).
Para conduzir um experimento de negócios, é imprescindível entrar com uma meta clara e que determine o que é sucesso para o teste. Se o objetivo não estiver claro, dificilmente a equipe vai decretar sucesso ou fracasso do teste e vai ter dificuldades em assimilar o aprendizado adquirido no processo – que basicamente independe do resultado.
Uma vez que a meta estiver clara, o próximo passo é estabelecer indicadores que vão medir de forma objetiva, qualitativa ou quantitativa, os resultados obtidos.
Neste caso, sugerimos aos governantes adotar uma meta S.M.A.R.T como “atingir 70% da movimentação econômica antes da quarentena em 30 dias“:
– específico
– mensurável
– atingível
– realista (e otimista!)
– com uma data limite
Neste caso temos um paradoxo envolvido: abrir a economia significa movimentar mais as pessoas e aumentar a possibilidade de novas infecções.
Então a meta deve incluir um objetivo de controle: “atingir 70% da movimentação econômica antes da quarentena em 30 dias ENQUANTO manter o número de novas infecções igual ou inferior aos últimos 15 dias“. Esse adição é o movimento de balanço da meta: perseguir um objetivo sem ofender o outro.
Um exemplo de como esse balanço não foi atingido: Blumenau reabriu a economia no dia 20/04. Como? Permitindo aglomerações no Shopping Center local. Eis o resultado:
Se lembra da correria na reabertura do shopping em Blumenau?Foi na 2ª feira passada, quando o comércio reabriu. A cidade tinha então 95 casos de Covid-19. Depois disso o número disparou. Somente no último fim de semana foram registrados 62 novos casos da doença. #FicaEmCasa pic.twitter.com/08eemIHL5Y
— André Trigueiro (@andretrig) April 27, 2020
Alguém menos versado em experimentos poderá dizer: “não deveriam ter reaberto a economia” (o quê da decisão). Meu ponto: reabriram da forma errada ao permitir aglomerações (o como da decisão).
Alguns indicadores para balancear essa decisão:
- queda do número de infecções nos últimos 14 dias: tendência consolidada de diminuição da transmissão da doença
- taxa de ocupação de leitos e UTIs na localidade: indicam a disponibilidade do sistema de saúde
Agilidade em Decidir e Adaptar a Execução
A maior parte dos indicadores econômicos estão em atraso. Uma forma de traduzir esse objetivo em indicadores é estabelecer metas de arrecadação de impostos, sobre a qual o gestor (governo) tem grande controle (nota fiscal eletrônica, por exemplo).
A participação da comunidade também conta no experimento! Números da indústria e do comércio local precisam ser levados em conta, assim como a percepção da opinião pública.
Essa visibilidade de metas e indicadores e o diálogo com toda a comunidade é parte fundamental do experimento! Dessa participação os governantes terão o apoio necessário para:
– executar a decisão COMO especificada
– obter os números e a possibilidade de diálogo com todos os envolvidos
– criar uma atitude positiva e de aprendizado com as pessoas
– estabelecer sucesso e fracasso
– gerenciar a decisão: frear ou acelerar a reabertura baseado nos resultados DURANTE o experimento, como mencionado na Harvard Business Review
Qual a sua Opinião?
Como você estruturaria esse decisão? O que você faria a mais, ou faria diferente?
Escreve prá gente: octanage.com/pergunte
Um grande abraço de muita saúde e prosperidade,
André Piazza
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